As Confissões de Santo Agostinho
Atas: Congresso Internacional "As Confissões de Santo Agostinho" – 2000
Parceria: Univ. Católica Editora
Lisboa, 2001: 788 pp
ISBN 972-27-1040-0
Cota CEFi: 276 AGO CON
As Confissões de Santo Agostinho, no dizer de Eduardo Lourenço, são obra mítica da Cultura Ocidental. Na verdade, se por mítica se entende aquela obra que ao dizer e confessar está, simultaneamente, a criar uma obra de demanda originária que enraíza matricialmente uma mundividência e sobre a qual exerce um fascínio quase inexplicável, então a história da receção e da tradução das Confissões torna pertinente tal designação. É inegável que, se o género confessional não foi inaugurado por Santo Agostinho, foi ele quem, com as Confissões, mais divulgou a literatura de viagens interiores, de autobiografia íntima, de ascenso às moradas e aos palácios da memória que marcou, profundamente, a nossa espiritualidade e contribuiu para um processo de elaboração da nossa consciência.
A liberdade, a amizade, a procura, o encontro, a alegria, o louvor; as emoções, os sentimentos, a razão, a fé; a criação, o tempo, a memória, a eternidade; o mal, o pecado, o erro, a culpa, a ilusão e a desilusão: eis a experiência de um homem de carne e osso que, em toda a sua riqueza e complexidade, converge para as Confissões, e que releituras sucessivas de certo modo universalizaram e concretizaram.
Reler as Confissões é ampliar, com o nosso, o seu testemunho. É esta a leitura apropriada, pois o pensamento augustiniano, mormente nas Confissões, reverte o tempo crónico — esse devorador dos seus próprios filhos — pela remissão para uma ordem sincrónica que pode ser, nesta hora, uma vitória sobre o desespero e o terror do tempo. É, por isso, um pensamento aberto ao possível e, talvez, ao impossível.
E isto é o que mais importa pensar.